terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Além das sombras

Uma prática bem interessante, depois que a gente começa a viajar naquele papo de construções e tal, perceber certas ironias entre as construções anatômicas e filosóficas, ou sociais e econômicas, religiosas e culturais, e aí vai... O assunto deste texto é a relação ver e a ausência da visão.
Por exemplo, na religião antiga nórdica vikings, Odin, martelo, etc nenhum poeta seria realmente poeta se não fosse cego.
A poesia era ligada fortemente com a magia. Até o todo poderoso Odin trocou um olho pelo direito de usar magia, mesmo que sendo um poeta/mago incompleto, uma vez que ainda poderia ver.
Isso nos remete a outros poetas/magos/médiuns antigos: os aedos, os poetas cegos do mundo grego. Mais uma vez, cá está: poeta CEGO.
Por que isso? Até o cavaleiro de dragão, Shiryu, vira e mexe tem que ficar cego no seu manga, Saint Seya, para enxergar além das ilusões. Uma vez para sair de um labirinto ilusório, outra para não ser petrificado pela visão de Medusa, outra ainda para ver os chakras de seu inimigo, o cavaleiro de Poseidon: Krishina.
No mesmo manga, o homem mais próximo dos deuses, o cavaleiro da constelação de Virgem, se priva da visão, para aumentar seus outros sentidos, mais espirituais.
Aqueles, em Matrix, que sabem que aquilo não é o real, usam óculos escuros. Neo, cego, acha o caminho até o deus da Matrix.
Todas essas relações trazem uma aproximação do cego, ou melhor, daquele que não possui a capacidade física de ver as coisas físicas, com as coisas, imagens, sentimentos, conhecimentos, poderes: espirituais. Como se os olhos fossem um canal para a ilusão (Maya).
E o mais próximo de nós: até a justiça – implacável contra as mentiras e ilusões – é cega. Ou melhor, vendada...
Platão e sua alegoria da caverna dizem que todos os seres humanos vivem em uma caverna e tudo o que vêem são sombras do algo real, na parede desta caverna. A realidade está fora da caverna. Aí está uma bonita ironia cultural: o cego nunca se iludiria com sombras na parede...

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